Quando ganhei uma Mamãe

Eu era apenas uma criança em meio a tantas outras. Frequentava a escola, tinha um lugar para morar, tinha amiguinhos, brincava e na medida do possível, eu era feliz.
Às vezes sentia um vazio, me via carente de abraço, de aconchego, mas em minha pequenez e ingenuidade, não sabia explicar o que sentia. No término das aulas, os meus coleguinhas corriam para os abraços das mamães, e eu não corria para os braços de ninguém… Eu não tinha uma MAMÃE.
A tia de onde eu morava me buscava na escola e a seu modo me dava carinho, mas não era a mesma coisa, porque à noite, quando eu me deitava, não havia ninguém para me contar histórias e quando eu acordava assustada com os pesadelos, não havia ninguém para segurar a minha mão, quando eu chorava, não havia um abraço para me afagar. Não tinha uma MAMÃE para mim…
O tempo passava e os dias seguiam-se comuns, ora felizes, ora entristecidos, mas sempre faltava algo, sempre faltava alguém, sempre faltava a MAMÃE.
Os dias passaram e um dia uma “Tia” veio conversar comigo. Sentou-se ao meu lado, segurou minhas pequenas mãos e me contou uma linda história de princesas. Eu fiquei muito feliz, tanto que lhe mostrei a minha boneca e ela sorriu contente. Passamos um tempo juntas e ela se despediu prometendo voltar com uma nova história.
Esperei aquela “Tia” voltar, até que um dia “Ela” de verdade voltou!
Veio com um livro lindo, que se abria em cores, cheio de magia. Enquanto lia, eu sorria feliz e ficava maravilhada com cada história que me contava. Antes de ir, ela me entregou o livro e disse para ficar com ele para ler as histórias quando quisesse sonhar.
Aquele foi um dia muito feliz e eu quase nem dormi direito. Queria ver todas as figuras e contar minhas próprias histórias – igual “Àquela Tia” – para as minhas amiguinhas.
“Aquela Tia” ia sempre me ver e além de histórias ela também brincava comigo e um dia me levou para passear na pracinha. Tomamos sorvete, ela me empurrou no balanço e me deixou brincar penteando os seus cabelos. Ela também penteou os meus, fez uma linda trança e colocou uma fita colorida. Voltamos para a minha casa e naquela noite eu dormi feliz sonhando com “Aquela Tia” que estava se tornando muito importante para mim.
Com o passar do tempo as visitas da “Tia” iam se tornando cada vez mais comuns. Saíamos para a pracinha, comíamos pipoca, ríamos brincando de pega-pega. Eu a abraçava e ela retribuía meus abraços com tanto carinho – e era tão bom sentir aquele abraço tão quentinho de amor!
Depois de tudo isso, de tantos momentos, “Aquela Tia” sumiu. “Ela” não vinha mais. Fiquei triste e não tinha ninguém para me ajudar, ninguém para me abraçar como “Ela”. Chorei abraçada com o livro que me deu e ainda podia sentir o cheirinho “Dela” e assim adormeci.
Ao acordar, percebi que alguém me olhava e me surpreendi ao reconhecer naquele amanhecer o brilho dos olhos “Dela” me olhando dormir. Me levantei e a abracei forte na esperança de nunca mais perdê-la.
Ela se ajeitou na minha caminha, me aconchegou em seu abraço, passou as mãos em meus cabelos e a ouvi murmurando uma música que mais parecia uma prece. Fiquei ali embalada naquele aconchego, sentindo um calorzinho gostoso, sem querer soltar para não perder a chance de ficar ali.
Ela me acariciou o rosto e olhou fundo nos meus olhos, e eu ainda me lembro do brilho no olhar “Daquela Tia” quando me viu sorrir. Ela estava tão feliz, parecia brilhar de tanta alegria. Passei minhas mãozinhas em seu rosto e percebi que ela chorava. Perguntei se ela estava triste e a abracei forte para tirar dela essa dor, que eu nem sabia o que era, mas que não merecia estar ali. Não queria que ela ficasse triste, não queria vê-la assim.
“Aquela Tia” beijou minhas mãos e me respondeu que chorava porque estava feliz, me abraçou e por um tempo ficou assim comigo, quietinha em seu abraço, até que me levantou e me olhou bem no fundo dos meus olhos e me perguntou se podia ser a Minha MAMÃE.
Eu não entendia muito bem o que era tudo aquilo, mas eu sempre quis uma MAMÃE. Olhei em seus olhos e em minha inocência apenas balancei a cabeça dizendo “SIM” erguendo os braços para seu colo. Ela me abraçou muito forte e me deu muitos beijos, juntou minhas poucas coisinhas e me levou para morar no fundo do seu coração para todo o sempre…
Eu não entendia o porquê de tudo, nem como aconteceu ao certo, mas sei de uma coisa, que naquele primeiro encontro, desde aquele dia,“Aquela Tia”, se tonou a MINHA MAMÃE e hoje moramos uma no coração da outra e vai ser assim para todo o sempre…
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A todas as pessoas que já embalam seus filhos e àquelas que assim como eu, os aconchega em seus sonhos, na esperança de breve vê-los chegar em suas vidas, como um raio de sol a brilhar a esperança eu desejo felicidade nesse dia, na certeza de que quando nasce o desejo, também nasce uma mãe e sempre haverá uma criança para um coração disposto a amar e maternar.
Desejo a todas as MAMÃES um Feliz Dia…
Um Feliz Todo Dia das Mães.
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Essa pequena crônica é o retrato de inúmeras histórias que permeiam o universo da Adoção.
Muitas crianças vivem seus vazios querendo ter uma MAMÃE, um PAPAI, uma FAMÍLIA e carregam em seu íntimo a certeza de que esse presente irá chegar. Eles sonham e acreditam e isso é que torna a vida mais leve, no desejo de que esse sonho se torne real e isso é o que vale a pena: Sonhar, Acreditar e Ter Fé.
Abraços Adotivos
Dalila Fernandes – Maio/2020